Luiza foi a "vizinha boa" da minha tia lá no hospital. Era da
cama ao lado, num quarto com 4 enfermos. Internada há mais
de 2 meses, segurando uma vaga no leito, a espera de uma
cirurgia para a retirada de um tumor na cabeça. Aparentemente
ela estava bem, seguia as regras como qualquer outro paciente
quanto a horários, mas ela mesma se cuidava, arrumava a cama,
suas coisas, tomava os remédios sozinha, e só se deitava a
noite, na hora de dormir.
Não tinha acompanhantes porque além de morar em outra cidade,
aqui mesmo no litoral, o marido e as filhas moças, trabalhavam
o dia inteiro. Dizia que só quando fosse operada é que iria
precisar de ajuda.
As vezes, quando minha tia estava mais tranquila ou dormindo,
eu ia ao lado da cama dela conversar um pouquinho. Era como
ir a casa de uma vizinha querida. Me oferecia a poltrona que
ficava ao lado de sua cama e se sentava na cama, e com prazer
abria seu criado-mudo para me dar algum biscoito ou docinhos,
que guardava em um lindo pote de vidro todo decorado com fitas
e rendinhas coloridas:
- Esse pote foi feito pela minha filha mais nova há
muito tempo atrás... e dizendo isso, o olhar ia para aquele dia...
Na cama, bem arrumada e bem esticadinha, e com uma colcha que
não era do hospital, ficava uma almofada vermelha em forma de
coração onde se lia: Te Amo!
- Foi minha netinha quem trouxe no dia das mães!
dizia com orgulho e com os olhos marejados.
No chão, bem juntinhos, 2 pares de chinelos de quarto, bem
frufrus. Um branco e um azul-marinho:
- Para variar e para combinar com minhas camisolas.
Não são umas gracinhas?? e aqui ela ria com ironia.
Os vasinhos com violetas, que dependendo da hora do dia,
ficavam na janela ou em cima do criado-mudo. Claro, muito
bem cuidadas.
E no canto da cama, em cima de uma toalhinha de mão,
caprichosamente bordada em ponto-cruz, ficava seu celular.
Como se fosse um altar sagrado. E ao simples toque seus
olhos sorriam:
- Presente do meu marido e das meninas quando vim para
cá. É uma maneira de eu estar pertinho deles lá em casa.
Mas tudo ali, naquele pequeno espaço destinado a ela, era
realmente a continuação do seu lar. Que mulher forte e ao
mesmo tempo tão doce e frágil. Em nenhum momento ela se
queixava ou demonstrava medo de seu futuro, principalmente
com um momento tão delicado por qual irá passar. Não falava
sobre a operação. Falava sempre além! Tantas coisas!! Tantos
planos!! Alguns simples, alguns mais difíceis:
- Mas não impossíveis!!! e aqui ela ria gostoso!
Mas muitos, muuuuitos planos além daquele lugar. Além de um
dia depois de tudo.
- Não tenho nenhuma dúvida, Luiza!! :)